Dando uma volta

Brasil, 20 de agosto de 2070.

Valter chamou para entrarmos em um daqueles metrôs, existem algumas plataformas ao longo das linhas, arredondadas feitas quase que inteiramente de uma resina transparente, contendo apenas os bancos e paredes interativas ao toque, que disponibilizam os mapas das linhas e os botões de emergência. Tirando alguns vídeos comerciais que tomavam conta de toda a redoma e interagiam conosco, não havia nada de diferente, aparentemente.

Enfim, estava deslumbrado com a propaganda sendo veiculada na redoma e não percebi quando o trem se aproximou, apenas quando suas portas, já abertas, emitiram um sonoro e visual bipe vermelho, quase ordenando a nossa entrada. Ainda fiquei olhando por alguns segundos um filme publicitário sendo veiculado na sua superfície externa até que Valter me puxou pelo braço com um ágil “Vamos”.

Escolhemos um lugar para sentarmos, não estava cheio, nem tampouco vazio, as cadeiras eram de um material meio emborrachado, esquisito para mim, mas muito boa de se sentar, com um pouco de tempo acostuma-se ao corpo do seu dono temporário.

Não há janelas, quer dizer, as paredes internas são todas opacas num leve tom bege, mas caso você faça um gentil arrasto com os dois dedos na superfície vítrea, ela relevará o exterior, criando uma janela personalizada que dura em torno de uns 10 minutos e depois desaparece.

Na parte de trás das cadeiras à nossa frente há uma tela onde podemos assistir às notícias da manhã, sem som. Nada muito futurista pensei, ao passo que Valter posiciona o seu dedo em um espaço destacado no encosto da poltrona e fixa os seus olhos na pequena tela, faço o mesmo e tomo um susto, retirando rapidamente o dedo para novamente colocá-lo com um pouco mais de desconfiança, posso ouvir perfeitamente o que falam na pequena TV à minha frente.

“Ressonância” explica Valter, “A poltrona utiliza o seu braço como um condutor para o som chegar até os seus ouvidos, é a mesma coisa na plataforma, assim evitamos poluição sonora”, sou um bobo, pensei, mais essa.

Valter me ensina mais um truque: pega o que parece ser um pequeno tubo branco do seu bolso, abre e retira um pequeno plástico enrolado, desenrola a ponta e aperta um dos cantos, o plástico se desenrola e enrijece virando uma pequena placa de vidro com um pequeno chip no canto e no restante da placa transparente aparece a foto de sua esposa. Valter ativa o chip e este conecta com a parede do trem que abre uma pequena tela próxima a ele, ativa um dos jogos do “celular” e começa a jogar tranquilamente, enquanto eu já boquiaberto termino de deixar cair meu queixo ao chão.

“Olha só” diz pra mim enquanto fecha o jogo e abre uma tela onde aparece a planta aérea do metrô de superfície com seus respectivos lugares e nestes algumas fotos de pessoas ou pontos de interrogação; “As interrogações são os anônimos, as fotos são pessoas que estão aqui no trem e que estão logadas na nossa rede social”, enquanto isso ele olhava para uma dupla de jovens garotas ao nosso lado: Marcela e Carol, constavam os seus nomes na tela do gadget; elas riram contidas pela nossa indiscrição.

Saímos sem mais, “A aliança estava coçando” disse Valter sem jeito.

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