Sol no rosto

Brasil, 20 de agosto de 2070.


Saímos da clínica, já podia andar normalmente e recuperei boa parte do meu vigor físico de outrora, tenho que admitir que o meu coração pulava naquela hora, nunca tinha saído da clínica desde que eu “acordei”, tentei me preparar psicologicamente para qualquer coisa que eu por ventura possa encontrar lá fora, mas não sei se isso seria suficiente.

Cruzei o hall de entrada da clínica e me aproximei da porta de saída, Valter está ao meu lado feliz e sorridente, dá uns tapinhas nas minhas costas para tentar me encorajar, um sorriso mais que amarelo foi a minha resposta.

Após um scanner de DNA a distância checar quem eu era e uma linda moça confirmar que eu realmente tinha recebido alta da clínica, a porta abriu; assim que saí, abri os braços, ergui a cabeça, fechei os olhos e respirei profundamente, o ar era limpo e o sol da manhã batia no meu rosto, eu tinha me preparado para algo estilo “Quinto Elemento” com carros voadores, muita fumaça, sujeira e pessoas com roupas estranhas e cabelos esquisitos.

Ok, os cabelos esquisitos estão aqui, das mais diversas cores e formatos e as roupas também, não são realmente extravagantes, pelo menos não a maioria. O que eu achei interessante é que quase todas, explicou o Valter, funcionam como painéis de LED de DNA e ao invés de estampas as pessoas colocam um vídeo da internet, seu perfil em uma rede social, uma foto, o clipe da música que estão ouvindo ou a tela do que estão jogando.

As ruas de asfalto ainda existem, mas estão lentamente sendo substituídas por metrôs de superfície, os carros que trafegam nas ruas são em sua maioria individuais e autônomos, fique inicialmente surpreso quando vi várias pessoas lendo ou retocando a maquiagem enquanto estavam sendo “levados” para trabalharem.

Não há árvores nas calçadas, foram substituídas por postes de luz que funcionavam por meio de luz solar, armazenada em baterias orgânicas auto regenerativas e utilizada à noite para iluminar os passeios. Alguns funcionam também como telefones de emergência, pontos de internet wireless, câmera de vigilância e painel de informações, com mapas, dicas de pontos turísticos e outros serviços.

Quanto às árvores de verdade, elas estão agora concentradas em áreas de preservação onde existe uma abundância de nascentes, dividas por tipo de bioma ou espécies que a habitam. São poucas, mas extensas, altamente vigiadas via satélite ou por meio de “drones”.

Grandes hidroelétricas não existem mais, foram desativadas devido à baixa demanda por energia, muito menos as usinas de energia nuclear, que foram fechadas antes das hidroelétricas devido aos resíduos que produziam; agora dão lugar a cidades ou áreas de preservação ambiental.

Perguntei ao Valter qual companhia de energia que possuía a concessão para tudo isso, ele simplesmente respondeu que nenhuma: todas as construções eram autossuficientes em energia devido aos avanços na tecnologia das células solares, que conseguem uma eficiência de quase 100% e às baterias auto regenerativas cuja validade depende apenas do seu invólucro. 

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